Quando alguém cruza os portões do Terreiro, é fácil pensar que veio apenas buscar uma palavra, um passe, uma luz. Mas será mesmo que um consulente é “apenas” alguém que consulta? Ou será que, aos poucos, ele também se torna parte do axé que sustenta a casa, da corrente que acolhe, do elo que nos fortalece como comunidade?
Na Umbanda, os consulentes são pessoas que procuram o terreiro em busca de auxílio espiritual, orientação ou cura para questões físicas, emocionais, mentais ou espirituais. Eles são parte fundamental das atividades da casa, pois a Umbanda é uma religião voltada para o atendimento e a caridade.
Os consulentes podem ser membros regulares da comunidade ou visitantes que chegam ao terreiro por indicação, necessidade espiritual ou curiosidade. Não há requisitos para ser atendido; a Umbanda acolhe a todos, independentemente de religião, crença, idade ou condição social.
O que buscam os consulentes?
As demandas dos consulentes são variadas e podem incluir:
1. Orientação espiritual: Pedem conselhos para lidar com situações de vida, como conflitos familiares, desafios profissionais ou decisões importantes.
2. Cura energética: Buscam alívio para doenças físicas ou desequilíbrios emocionais através de passes, rezas ou banhos espirituais.
3. Limpeza espiritual: Desejam retirar energias negativas acumuladas, como inveja, olho gordo ou influências espirituais prejudiciais.
4. Fortalecimento espiritual: Procuram conexão com os guias e orixás para obter proteção, força e equilíbrio.
5. Resolução de demandas específicas: Soluções para problemas práticos ou espirituais, como desarmonias em relacionamentos, dificuldades financeiras ou bloqueios na vida.
Como os consulentes são acolhidos?
No terreiro, o acolhimento dos consulentes é realizado com respeito e empatia, seguindo princípios fundamentais da Umbanda, como caridade, amor e fraternidade. O processo geralmente inclui:
1. Recepção: O consulente é recebido pelos cambonos ou outros membros do terreiro, que orientam sobre os procedimentos e explicam como serão os atendimentos.
2. Atendimento espiritual: O consulente é atendido por uma entidade incorporada no médium, que oferece orientações, realiza passes ou indicações de tratamentos espirituais.
3. Encaminhamento: Após o atendimento, o consulente pode receber orientações práticas, como rezas, banhos ou condutas a serem seguidas.
A relação entre consulentes e o terreiro
Os consulentes são acolhidos com o propósito de serem auxiliados, mas também desempenham um papel importante na troca energética do terreiro. Ao buscar ajuda, eles permitem que as entidades trabalhem em prol de sua evolução e, muitas vezes, despertam em si mesmos o desejo de aprofundar sua conexão com a espiritualidade.
Embora o terreiro seja um espaço de caridade, os consulentes também são convidados a contribuir com a manutenção da casa, seja por meio de doações ou participação nas atividades comunitárias, respeitando sempre o equilíbrio entre o dar e o receber.
Os consulentes são parte essencial do trabalho na Umbanda, pois refletem a missão caritativa da religião: acolher e amparar a todos que buscam luz e conforto espiritual. A relação entre o terreiro e os consulentes é baseada na confiança, respeito e no propósito comum de evolução espiritual e bem-estar.
Direitos dos Consulentes
Os consulentes têm o direito de:
1. Ser acolhidos com respeito e igualdade: Independentemente de crença, raça, gênero, idade, ou condição social, todo consulente deve ser recebido sem preconceitos.
2. Receber assistência espiritual: Os consulentes têm o direito de buscar orientação, auxílio ou cura espiritual, dentro das possibilidades da casa e das entidades.
3. Preservar sua privacidade: Questões pessoais abordadas durante os atendimentos devem ser tratadas com sigilo por todos os envolvidos.
4. Participar de forma voluntária: O consulente não é obrigado a seguir nenhuma orientação espiritual ou prática indicada, sendo livre para decidir conforme sua consciência.
5. Ter suas dúvidas esclarecidas: Qualquer dúvida sobre os rituais, atendimentos ou recomendações deve ser explicada de forma clara e respeitosa.
6. Frequentar o terreiro em segurança: O ambiente deve ser seguro e acolhedor, protegido de energias negativas e influências externas.
Deveres dos Consulentes
Os consulentes, por sua vez, têm os seguintes deveres ao frequentar o terreiro:
1. Respeitar as normas e práticas da casa: Cada terreiro tem sua organização interna, e o consulente deve segui-la, respeitando horários, condutas e orientações.
2. Manter uma postura respeitosa: É essencial tratar com respeito o dirigente espiritual, os médiuns, outros consulentes e as entidades.
3. Evitar julgamentos: O consulente deve abster-se de emitir opiniões negativas ou críticas sobre as práticas religiosas da casa ou sobre outras pessoas;
4. Contribuir energeticamente: Mesmo que a caridade seja um princípio da Umbanda, o consulente deve buscar retribuir, seja com orações, doações voluntárias ou ajudando a preservar o ambiente.
5. Cumprir as orientações espirituais: Caso opte por seguir as recomendações das entidades (banhos, rezas, oferendas, etc.), o consulente deve fazê-lo com seriedade e comprometimento.
6. Zelar pela ordem e silêncio: Durante os trabalhos, é fundamental respeitar o ambiente, evitando conversas paralelas, distrações ou atitudes que atrapalhem a harmonia do terreiro.
Princípio de Equilíbrio: Dar e Receber
Na Umbanda, o auxílio espiritual não tem um custo fixo, pois a caridade é um pilar fundamental. Contudo, é esperado que os consulentes compreendam a importância de contribuir para a manutenção do terreiro, seja por meio de:
• Doações financeiras voluntárias;
• Materiais de limpeza, velas, flores ou outros itens usados nos rituais;
• Participação em eventos e mutirões organizados pela casa.
Essa troca respeita o princípio de equilíbrio energético, onde o consulente recebe auxílio e, por sua vez, ajuda a sustentar o espaço que lhe acolhe.
Durante os trabalhos espirituais e as giras no terreiro, é importante seguir algumas orientações para garantir que a energia do ambiente seja preservada e que todos possam usufruir de um atendimento de qualidade. A colaboração de cada um contribui para que a corrente de trabalho se mantenha equilibrada.
Comportamentos que Devem Ser Adotados Durante a Gira
Celular
Gentileza desligar o celular ou colocá-lo no modo avião. Pedimos que consultas aos celulares somente sejam feitas no intervalo. Quem ficar para a segunda gira (a gira de Exu), deverá desligar o aparelho novamente ao voltar para a área sagrada.
Pois: aparelhos eletrônicos interferem no equilíbrio da corrente de trabalho e nas movimentações das energias no ambiente do espaço sagrado. Além disso, desconcentram as pessoas que estão próximas ao usuário. Muitos sabem que noutras casas essa orientação também é dada.
Conversa
Mantenham-se realmente em silêncio durante os atendimentos, sem conversas paralelas. Busquem estar em oração, ou com a mente focada em paisagens agradáveis, ou meditando silenciosa e positivamente naquilo que veio buscar.
Pois: O silêncio também ajuda a sustentar a corrente de trabalho, deixando-os mais serenos e em condições mais adequadas para receberem o tratamento.
Vestimentas
Busquem vir com roupas simples e de tons mais claros. Evitem roupas justas, muito curtas, decotadas, etc. Tais vestimentas não são adequadas nos ambientes sagrados, pois podem interferir na energia do local. Sugerimos uma calça jeans ou de outro tecido e uma camisa de malha, por exemplo.
Atendimento
Se a entidade que for lhe atender estiver usando charuto ou cachimbo e a fumaça for algo que lhe incomode, pode falar com ela, respeitosamente, que gostaria que o atendimento fosse sem o uso daquele recurso.